Detalhes em Palavras

  

  O que mora nas minhas lembranças tiveram sua época não tem muito tempo, mesmo que este tempo tenha ficado no século passado. E não têm muito tempo mesmo, digo isso pelos cheiros, barulhos e imagens ainda tão frescos, quase que palpáveis, mesmo que na minha memória.

  A verdade é que nasci na década de 80, mas minha infância existiu nos anos 90. E como foi divertido construir uma infância nos tempos em que a internet, os tablets e celulares ainda nem existiam. As dúvidas e trabalhos da escola eram tirados das enciclopédias e junto com os colegas, e o conteúdo das provas dos cadernos montados dia após dia nas salas de aula. A hora do recreio era sempre muito esperada, pois era nela que brincávamos com nossos ioio´s da coca cola, com nossos Tazos que vinham nas embalagens de chips, ou jogávamos tapão com figurinhas de futebol que comprávamos nas bancas. Já de volta à sala de aula, era sempre um desafio esconder o Tamagotchi dos professores, principalmente quando era hora de alimentá-los. Andávamos super orgulhosos com nossos fichários e cadernos de personagens da Disney, vestíamos jaquetas jeans do Hard Rock Cafe ou da Planet Hollywood e usávamos nossas mochilas coloridas da Company, que cederam espaço, após alguns anos, para as mochilas da Kipling. Cada macaquinho pendurado no chaveiro da mochila tinha um nome. Os estojos eram também de personagens e eram cheios de compartimentos. Neles cabiam borrachas, lápis, réguas, colas e tesouras. 

   Mas a farra era mesmo completa nos finais de semana, quando íamos à locadora apressadamente para encontrarmos as fitas com os filmes que tanto queríamos assistir. Caso não encontrássemos, não havia problema. Substituíamos muito bem pelas brincadeiras com Barbies, Playmobils, Comandos em ação, Bolinhas de Gude, Geleca, Mola, Bat Bag e o que mais aparecesse pela frente. Quando enjoávamos de tudo isso, podíamos ouvir músicas no rádio e gravar fitas para ouvirmos nos nossos Walkman´s, ou então assistirmos à televisão. Sempre tinha alguma coisa legal nos canais da TV, como Pica Pau, Tom e Jerry, He-Man, a Turma do Pernalonga, Ursinhos Carinhosos, Smurfs, O Fantástico Mundo de Bobby, Power Rangers, Carrossel, Chiquititas e Sábado Animado. Era bom também jogar jogos, como Cara Maluca e Pega Varetas, e também vídeo-games, seja Super Nintendo ou Master System, com seus jogos inesquecíveis, como Alex Kid, Super Mario, Sonic e tantos outros mais. Adorávamos também o Programa da Xuxa e a TV Colosso.

   E como esquecer das brincadeiras na rua com a meninada do bairro? Era queimada, pique-esconde, soltar papagaio, pega-pega, futebol com chinelos formando o gol e tantas outras brincadeiras que faziam o dia passar sem que nos déssemos conta. E quantas vezes voltávamos para casa com os joelhos ralados, a testa suada e a roupa suja, mas felizes da vida, doidos para que o dia seguinte chegasse logo, e com ele começasse tudo de novo. Já na hora de dormir, as revistinhas da Turma da Mônica nos faziam companhia até o sono chegar.

   Houve o dia em que a internet chegou. E aí ela trouxe o ICQ e a hora exata de nos conectarmos. Chegava segunda-feira novamente, mas nunca dava meia-noite de sexta-feira para a tão esperada hora da conexão. E aí era aquela sinfonia de sons sinalizando que a conexão estava sendo feita, e o barulhinho inconfundível quando ficávamos online: "Olá, você está online". E aí bastava verificar quem estava disponível para conversar e sentir o coração disparando toda vez que fazia o barulho do "toc toc toc" quando entrava alguém no ICQ. Tem gente que fez uma conta de e-mail nessa época, e que a utiliza até hoje. No sábado só era possível conectar-se à internet após o meio-dia, e mesmo assim tinha que desconectar caso alguém quisesse usar o telefone. Era um novo mundo que se abria para os jovens àquela época, uma emoção a cada conexão, uma infinidade de possibilidades. Hoje já está mais do que escancarado, e os jovens atuais nunca entenderão o que era ter um computador para a casa inteira, e como era não se ter a internet em mãos o tempo todo.

   Quando vejo tudo o que existe hoje em dia para os jovens atuais, parece que minha infância e adolescência foi há muito tempo mesmo. Tanta coisa mudou, como tudo foi facilitado, ampliado, banalizado. Penso que as pessoas da minha geração ainda pegaram aquele resquício das brincadeiras de rua, do hábito de ir para a casa do colega fazer trabalhos e estudar para provas, de assistir a desenhos animados na TV. Mas taí: são coisas que nunca me cansarei de contar como eram. Foram dessa forma, sendo tão distantes com relação a como é hoje, mas tão próximas e vivas toda vez que encontro um resquício de infância feliz pelos armários e caixas da casa, e também toda vez que fecho os olhos para lembrar de uma infância realmente bem vivida.

Revistas da Turma da Mônica. Fonte: www.planosfemininos.wordpress.com

   

Alguns jogos dos anos 90. Fonte: www.lookbebe.com.br

Fichário do Mickey

Aquaplay do Mickey. Fonte: www.saladadebatom.com.br

CD do É O TCHAN. Foi febre entre as jovens.

Prendedor de cabelo da moda entre as meninas.

Estojo que toda menina tinha. Tinham também as versões para os meninos.

Os Ioio´s da Coca Cola.

Brinquedos da época. Fonte: www.clubededuas.com

Super Nintendo

Master System

Alguns brinquedos da época.

Bonecos do Comandos em ação

Desenhos animados da época.

He-Man

Barbie

Playmobil

  Seguir em frente. Já nascemos tendo que seguir em frente. Sempre aprendemos isso desde que começamos a andar. Um passo atrás do outro e, caso ocorra a queda, o negócio é levantar e seguir em frente. 

   Chegamos nesta vida zerados, como quando compramos um carro novo sem nada seu dentro. Com o tempo ele vai ganhando seu jeito, seu cheiro, seus objetos pessoais dentro, como seus CD´s favoritos, seu óculos de sol, aquela blusa de frio para uma emergência, moedas, lixeira e uma balinha. E assim é a vida. Com o passar do tempo vamos adquirindo manias, experiências, crenças e aprendizados que nos fazem ser quem somos, e essa bagagem de vida vamos colocando no porta malas e no bagageiro para nos acompanhar ao longo da estrada da vida.

   Essa estrada chamada vida tem suas curvas, seus perigos, seus obstáculos, paisagens lindas, outras nem tanto, suas retas entediantes, suas paradas, suas continuidades. Há aquelas pessoas que são seus caronas fazendo a viagem ser mais prazerosa e outras, por vezes, tomam a direção para você quando sua sensação é de que se deve parar um pouco e descansar. E assim escolhemos um rumo e vamos seguindo em frente, sempre na esperança de chegarmos "lá", seja onde quer que esse "lá" seja. Esse "lá" pode ser um sonho antigo, mas também pode variar de acordo com a fase da vida. Mas o certo é que esse "lá" nunca é o ponto de chegada final e definitivo. Sempre damos um jeito de acharmos um novo "lá", um outro motivo para entrarmos novamente no carro e seguirmos estrada mais uma vez. 

   Estarmos no nosso "carro" dirigindo pela "estrada" chamada vida é o que fazemos quando acordarmos todos os dias. O que aprendemos desde crianças, os ensinamentos dos nossos pais e familiares, professores, amigos, levamos sempre com a gente no bagageiro e no porta malas. São esses ensinamentos que nos fazem decidir entre pegar uma nova estrada ou continuar seguindo pela mesma. São o que nos ajudam a sabermos lidar com algum obstáculo, ou simplesmente sabermos dar valor à paisagem. Olhe pelo retrovisor e verás que o que já foi vivido estará sempre no seu campo de visão, fazendo parte do caminho já percorrido. Olhe em frente e verás, mesmo que ao longe, onde se quer chegar, mesmo que ainda faltem muitos quilômetros para isso. Olhe para o lado e notará que a paisagem à sua volta é a sua situação atual. Tudo parece nublado? A névoa uma hora passa. Está atravessando uma tempestade? Concentre-se, segure firme o volante e faça o melhor para passar ileso por ela. Está à noite, com pouca visibilidade do que vem pela frente? Diminua a velocidade e vá devagar, enxergando o que é palpável no momento, mas sem deixar de acreditar que a luz logo virá. E se o dia estiver ensolarado, aproveite a paisagem e seja grato pelo momento favorável. O certo é que cada um passa por todos esses tipos de situações em sua estrada, e que todas elas formam o que cada um se torna ao longo do caminho.

   O importante é não pararmos nunca. Ao seguirmos em frente, assim como aprendemos desde pequeninos, já começamos a deixar algo para trás. Faz parte da evolução perder algo quando se ganha alguma outra coisa. Mas a vida é assim, buscamos novos caminhos sem deixarmos de olhar pelo retrovisor para lembrarmos de tudo o que já vivemos e que estamos deixando para trás, com as lições e aprendizados bem guardados no bagageiro e no porta malas, e com os olhos prioritariamente em frente, porque é para lá que vamos. É pelo destino que continuamos dirigindo nossas vidas, e é ele que faz tudo isso ter sentido.

   Enquanto há vida, há paisagens antigas e novas, há destinos que traçamos e outros que simplesmente surgem inesperadamente e acabam nos surpreendendo, e há muita bagagem. Bagagem emocional, bagagem material, não importa. É essa bagagem que vai aliviar a saudade do que já passou e que, por vezes, embaça os olhos com lágrimas do que aperta o coração.

   Uma coisa que aprendi é que o mais importante não é o destino, e sim o caminho. A vida é o próprio caminho com suas companhias, suas experiências e com aquele ventinho fresco no rosto que te faz lembrar como é gostoso e como vale a pena se aventurar por essas tantas estradas da vida.

   

  

  Fazer aniversário. Gosto de refletir sobre o que é estar mais um ano nessa Terra, nesse corpo, envolta por essas e tantas outras pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida. 

  Na Terra, entendo que é necessário ter leveza e amor pelo que é belo e certo, e ser guiado pelo que dá prazer. Já entendi também que nossos sonhos são nossos melhores guias.

  Sobre o corpo que Deus nos dá, entendo cada dia mais que é nosso templo, e dele devemos cuidar para que seja nossa "casa" por muitos e muitos anos.

  Sobre as pessoas, tem as que te fazem entender e aprender muitas coisas, tem as que te dão amor e motivos para sorrir, e tem aquelas que enfeitam sua estrada em determinadas partes do caminho, ou no caminho todo, por que não? Mas, melhor ainda, tem aquelas que farão tudo isso por você, e essas, principalmente, merecem o devido valor e aquele pedacinho todo especial do seu coração. 

  Aniversário, portanto, é tempo de renovação de alma, de planos, de sonhos, de objetivos. É tempo de ser grato pelos bons e maus momentos que levam cada um a ser o que é hoje. Sim, são também os maus momentos que fazem com que levantemos ainda mais fortes do que antes, e fazem ainda com que experiência, amadurecimento e aprendizado tomem o lugar do medo, da imaturidade e do andar incerto. Além do mais, quando daríamos valor à alegria, às conquistas e às realizações se não fossem as decepções, a luta e os sacrifícios? 

  Hoje, mais do que nunca nesse meu novo ano de vida completo hoje, sinto gratidão pela vida, por tudo que me fez ser o que sou hoje e pelas pessoas incríveis que fazem tudo valer ainda mais a pena. Para os próximos dias e anos, coração aberto e mente feliz!

  "Quando a vida estiver fácil, diga 'obrigado' e celebre. Quando a vida estiver difícil, diga 'obrigado' e lute".

  

  Após alguns minutos andando, ela chegou em frente à Igreja. Sim, aquela mesma onde estivera há uns meses para pedir. E pediu de tudo. Pediu que a viagem de três meses desse certo, que hora nenhuma ficasse doente, que não houvesse nenhum contratempo, que nada saísse dos planos meticulosamente calculados por ela. Pediu a Deus, pediu à Santa Rita de Cássia de quem tanto é devota, pediu aos anjos e até às estrelas. Por mais que fosse uma viagem tão esperada, o frio na barriga começava a tomar conta com sua proximidade, e até isso ela pediu que fosse tirado dela. 

   A viagem veio, os três meses se passaram e lá estava ela na mesma Igreja, no mesmo banco, mas com outros pensamentos. Dessa vez ela veio agradecer. Somente isso. Depois de três meses que nunca mais sairiam de suas lembranças, ela não ousou pedir mais nada, e seu semblante de gratidão demonstrava exatamente seu propósito naquele dia. 

  Quem a havia visto três meses antes imaginaria, ao vê-la agora, que seus pedidos para a viagem foram totalmente atendidos. Mas não foi o que aconteceu. Ao contrário do que ela havia mentalizado anteriormente, ela precisou ser medicada, houve contratempos com a bagagem, ela se perdeu em uma cidade com um idioma estranho e muitas coisas não foram nada do que ela havia planejado. Mas uma coisa saiu como ela havia pedido a Deus, à Santa Rita de Cássia, aos anjos e às estrelas: sua viagem de três meses havia dado certo. Do seu jeito, mas deu.

  Muita coisa não havia saído como ela imaginara. Houve problemas, teve muita saudade que a acompanhou durante todos os dias, e que vez por outra a sufocou em alguns momentos, teve a dificuldade do idioma, teve malas sumidas, teve aflição de se perder em ruas nunca antes visitadas, teve lágrimas. Mas teve também muitos sorrisos repentinos e diários, sonhos realizados, esquinas charmosas que não estavam no roteiro, amizades inesperadas, apartamentos que ficaram para a história, vistas e paisagens que ganharam seu lugar no coração e a felicidade da evolução, de sentir que tudo aquilo a enriquecera, de que voltaria de viagem uma outra pessoa.

  Foi então que, enquanto retornava e também ao caminhar para a Igreja, percebeu como que muitos caminhos que a princípio parecem errados te levam a lugares e momentos incríveis, que um roteiro certinho jamais levaria. Ficou nítido como que as coisas planejadas, juntamente com as que deram errado, formaram experiências que fizeram de sua viagem ainda melhor do que ela havia planejado. Por fim, ela se deu conta de que a vida rasga na sua frente seu roteiro perfeito para uma viagem e também para os passos ao longo de toda uma vida. Há que se ter planejamento, mas há também que se estar sempre aberto para as novidades que resolverem rabiscar e alterar um pouco seus planos iniciais. E ,assim, disso somos feitos: de planos que dão certo e também daqueles que nem imaginávamos mas que simplesmente acontecem.

  Ela terminou de agradecer, levantou-se e seguiu seu caminho. O que haveria na próxima esquina ela ainda não sabia, mas, também, ninguém nunca saberia ao certo. Eis o charme das surpresas da vida.

  

  O que é permitido sentir quando duas pessoas que fazem parte de sua vida juntam suas coisas e resolvem se mudar de cidade, de país, de hemisfério? O que é permitido dizer e quais são as feições que podem ser feitas no momento em que você vai buscá-las para levá-las ao aeroporto, e de repente encontra toda a vida delas dentro de poucas malas? Difícil dizer... será que tudo é permitido, já que é um momento que representa muitas sensações, ou será que é melhor tentar fingir que tudo está normal e se portar como em uma situação qualquer de um dia comum, seja para não deixar a pessoa ainda mais ansiosa, seja para tentar enganar o próprio coração que já sabe o que está por vir?

  A resposta certa não existe, até porque situações como essa são como corridas, mas de sentimentos. Cada hora é um que está na frente, cada hora um ultrapassa o outro, até que vem a linha de chegada e com ela a necessidade de um tira-teima para ver quem ganhou por questão de milímetros. 

  Hoje foram com a gente para o aeroporto, além das malas grandes e pesadas, um excesso de peso de sentimentos, todos se alternando na liderança dos nossos corações. A felicidade por ver nossos amigos passando de fase nesse jogo da vida em busca do prêmio chamado realização de um sonho, se alternava na liderança da "corrida" com o sentimento amargo de se estar "perdendo" pessoas que estão sempre por perto e que nos querem bem - e isso, sejamos sinceros, é raro hoje em dia. Difícil para mim que os conheço há quase uma década, praticamente indigesto para meu noivo, que se despedia de alguém que cresceu com ele, que fez um papel de irmão ao longo da vida. Nessa situação, nem um tira-teima resolveria qual o sentimento vencedor do momento. Foi empate, chegaram todos ao mesmo tempo na linha de chegada formando o nó na garganta que não deixou mais nada ser dito quando deu a hora do embarque.

  Pois é, a despedida é triste quando pensamos com nosso lado egoísta de querermos as pessoas pra sempre perto de nós, mas é um alívio ao pensarmos com o lado da razão, da liberdade, da alegria de ver alguém ganhando asas e voando para suas conquistas, literalmente. Aí então o que resta é torcer pelo melhor, além de, após o embarque, correr para o mirante do aeroporto e grudar o rosto no vidro para ver o avião e os sonhos decolando. Enquanto víamos as luzes do avião se afastando no céu chuvoso, decidimos que a felicidade ganharia essa corrida, por mais que a tristeza da ausência de vez em quando nos lembrasse de como era bom tê-los por perto. 

  Quando o avião sumiu de nossas vistas, demos meia volta e também as mãos, e fomos embora do aeroporto, com a certeza de que a alegria e a saudade viriam com a gente. Fazer o quê?  Pelo menos a alegria seria sempre a vencedora, e a saudade seria o detalhe que nos lembraria de tantos momentos felizes que passamos juntos. Na corrida dos sentimentos, o pódio é o lugar bem alto onde moram os prêmios de uma vida bem vivida.

  Você já parou para pensar no poder de um toque? Já reparou quantas energias são passadas de uma pessoa para a outra através de um simples contato? E não se trata só de energias, mas também de afeto, de uma mensagem ao outro de que ele não está sozinho nessa caminhada e de que ele é importante na sua, de detalhes no outro que só um contato cheio de intimidade pode trazer e também de significados que nem sempre as palavras são capazes de traduzir.

  Nesses dias tão agitados, cheios de tarefas e informações, pare e tente se lembrar de qual foi a última vez que você deitou sua cabeça no peito de alguém que você ama e sentiu o coração dela bater. Pergunte a si mesmo se você já sentiu a vida vindo de outra pessoa quando sente o calor de sua pele, se não tem muito tempo que você parou para segurar firme a mão de alguém para lhe dizer, sem precisar falar, que está sempre ao seu lado. Só tente perceber se os seus toques, ultimamente, não têm sido automáticos, ou se têm sido escassos por picuinhas que não valem a pena em uma vida que passa tão rápido, ou se estão sendo mais na tela de seu celular. Tente perceber se você passa horas ao lado de alguém sem realmente estar presente, ou sem realmente demonstrar a importância desses momentos em sua companhia.

  A vida vai passando, os dias parecem terminar cada vez mais rápido, as fases passam e quando nos damos conta não nos lembramos de termos, em muito tempo, abraçado apertado nossos irmãos e amigos, não nos lembramos da última vez de termos deitado nossas cabeças no melhor e mais poderoso colo do mundo, que é o colo de nossos pais, ou de colocarmos a mão no rosto de alguém especial simplesmente pelo prazer de lhe tocar. Muitas vezes o toque é automático, mas são raras as ocasiões em que prestamos atenção no que algum gesto de encostar no outro signifique, de como ele é importante por estreitar laços, e de como ele toca sentimentalmente a outra pessoa envolvida.

  Por tudo isso, que os toques sejam mais frequentes. Que saibamos valorizar a vida de quem amamos ao sentir o calor de sua pele, o pulsar de seu coração, ou um simples dar as mãos que pode significar tantas coisas quando paramos para prestar atenção nesse simples porém rico gesto. Que um abraço apertado cure muitas feridas e traga todo o conforto que ele pode trazer, e que nele haja um acúmulo de sentimentos que sobrevivam à distância que muitas vezes teima em ser longa. Por fim, que enxerguemos a importância do toque enquanto ainda há a proximidade com quem faz a diferença nos nossos dias. 

  E você, já tocou quem você ama hoje?

  E não é que você está chegando? Há nove meses eu soube que você viria, e uma nova tia já nasceu bem depressa nesse coração de manteiga aqui. Foram dias e meses pensando em como talvez você se chamaria, tentando te encontrar colocando a mão na barriga da sua mamãe, falando com você para que desde sempre você já gostasse da minha voz. Foram também 9 meses tentando me acostumar com a ideia de que eu seria tia, de que meus pais já seriam avós, e de que no próximo Natal teria uma pessoinha engatinhando e puxando os enfeites da árvore.

  É, e não é que passou rápido? Você está há 9 meses pertinho de nós, mas ao mesmo tempo ainda tão inalcançável. Mas está vindo, fazendo com que nossos corações batam mais rápido, com que as vitrines de roupinhas de bebês atraiam cada vez mais nossos olhares e fazendo com que nossas imaginações corram soltas sobre planos de momentos com mais um membro na família. Seu quartinho já arrumado com o maior carinho já está pronto e é o anúncio de quantos momentos maravilhosos estão por vir.

  Parece exagero, mas eu já te imagino. Te imagino fisicamente como uma mistura de seus pais, e internamente como a soma de tanto amor que vai chegar até você. Amor de pais, tios, avós, primos. Amor puro, amor sem limites.

  Eu sou tia de primeira viagem. Sei que estou imaginando um sentimento que com certeza não chegará nem perto do que será de verdade. Sei que toda a minha ansiedade, animação e amor por você só crescerá em grande escala quando eu te ver pela primeira vez. Só espero que você reconheça a tia que já nasceu em mim também, uma tia que te olhará e tratará como um filho próprio e que estará sempre ao seu lado ao longo de sua caminhada. Espero te passar tudo isso, seja no nosso primeiro toque, seja em cada vez que estiver com você.

  Abril chegou, é o seu mês. O mês que nos marcará para sempre. O mês em que toda uma família renascerá com mais um posto: quem é marido e mulher se tornará pai e mãe, irmãos que serão também tios, pais que serão avós. Postos novos, responsabilidades dobradas. E o amor? Esse é imensamente maior também, assim como o sorriso no dia em que te olharmos pela primeira vez. 

  Desde muito tempo eu ouço a música Anunciação do Alceu Valença, e ela nunca me fez tanto sentido como agora. Então eu ofereço ela a você, meu sobrinho lindo e amado, para que um dia você a escute e saiba que você nem havia chegado e nós já escutávamos os seus sinais, e que você viria para brincar em nosso quintal. E é assim, na bruma leve das paixões que vem de dentro, que já te amamos e te aguardamos em algum dia abençoado de Abril.

  "Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais!"