Ela era só mais uma das muitas pessoas que daria tudo para prever o futuro. Ahh, quantas noites de angústia, quantas lágrimas e quanto tempo precioso deixariam de existir se ela adivinhasse para onde a vida a levaria. E foi a vontade de ter esse super poder que a fez ser inundada de pensamentos, perdendo mais horas preciosas de sono.

  Imagine só se ela já soubesse que aquele namoro inútil com o Diego não daria em nada. Era tão cega de amor, ele era tão perfeito aos olhos apaixonados dela, que perdeu momentos incríveis com seus amigos só para ficar ao lado dele. E olha que eles nem tinham os mesmos gostos. Só tinham um ao outro em comum, e hoje ela já viu que nem isso era verdade. Como foi boba. Engoliu sapos, abaixou a cabeça para a forma nada delicada com a qual ele a tratava, fechou os olhos para escapulidas que ele nem fazia mais questão de esconder e, mesmo vendo que o namoro não era nada do que ela havia projetado quando o conheceu, ainda assim não tomou a iniciativa do término na esperança de uma melhora de cento e oitenta graus por parte dele. Acabou partindo dele a iniciativa de colocar um ponto final no que ela insistia em colocar reticências.. 

  Enquanto ainda pensava no namoro que ela mais queria esquecer, acabaram vindo em sua cabeça tão jovem, mas tão preocupada, aquele curso que ela nunca terminou, aquele idioma  que ficou por aprender, aquela festa que foi uma furada e tantas outras coisas que ela teria evitado ou nem começado. Será que era só ela que colecionava frustrações, atividades interrompidas e lembranças ruins? Será que era assim a vida? 

  Já que estava sem sono com uma nuvem de pensamentos tomando lugar do sono, acendeu a luz para ler um livro. Quando o quarto se iluminou, avistou, no seu quadro de fotos, uma amiga que era tão especial para ela. Uma amiga que ela havia conhecido através do Diego. Para isso, pelo menos, ele prestou, ela pensou. Na foto ao lado, havia outra que lhe trouxe a lembrança dos dias em que ia para o curso de idiomas, onde também fez bons amigos que sempre a faziam rir com os erros na hora da pronúncia. Foi uma fase que a ajudou bastante a se distrair quando os pais estavam se separando. E aquela outra foto logo abaixo, que registrou um dos poucos momentos engraçados da viagem à praia com as duas amigas, quando ainda estavam a caminho, no ônibus, comendo chocolates e compartilhando os fones. Até que essa parte da viagem foi legal.

  Já era de madrugada quando ela apagou a luz. Seu quadro de fotos sumiu de suas vistas, mas continuava ali, na sua memória, ocupando o espaço de suas dúvidas, decepções e aflições. Ele lhe fez pensar que algo bom saiu de tudo o que não foi tão bom assim. Seu coração finalmente se acalmou, e ela dormiu pensando que tudo pelo que ela passou a transformou no que ela é hoje, e que a vida tem seus caminhos com perdas e ganhos e ainda, no mínimo, um alto senso de humor.