Naquele banco



   Ela avistou um banco e, já cansada de andar, se sentou. Era na sombra, melhor ainda. O banco fazia parte de uma casa aparentemente abandonada, com janelas trancadas e, nos vidros, um adesivo com os dizeres "Eu Amo Lavras Novas". Todos que visitam essa pequena cidade, escondida pelas montanhas de Minas Gerais e ao final de uma estrada de terra, parecem amá-la. Assim também como seus moradores, aparentemente tão humildes e simplórios. 
  Enquanto recuperava o fôlego, ela começou a reparar o constante vai-e-vem de moradores e de turistas. Todos pareciam se movimentar em câmera lenta, aliás, parecia ser mesmo este o ritmo daquela cidadezinha de ruas charmosas e casinhas coloridas. Fazia tanto tempo que ela não se dava ao luxo de parar  e reparar, que até pensou se não estava fazendo algo errado ou perdendo um tempo precioso de que fosse precisar depois. Mas uma vozinha vinda de dentro dela insistia para que ficasse, nem que fosse enquanto seu fôlego voltasse e suas pernas descansassem. E ela ficou.
  Reparou que os únicos barulhos que ouvia eram dos passos das pessoas nas pedras que compunham a rua, dos pássaros e dos vizinhos conversando de suas casas pelas janelas. Pensou como hoje em dia não se conversa nem com os vizinhos, quanto mais pela janela. Aliás, mal sabia o nome de seus vizinhos. Também, como pudera, com tantos afazeres, com a correria e com prédios que possuem elevadores privativos. É preciso realmente morar em uma cidade pequena e tranquila para se ter essa proximidade com quem divide uma mesma rua e às vezes gerações inteiras.
  De repente, saíram correndo de uma casa crianças que começaram a chutar bola na rua. Era uma outra situação que ela não via há muito tempo. Crianças brincando e ainda por cima na rua. Claro que ela pensou em brincadeiras de quando ela era criança, como chutar bola em traves feitas com chinelos, pique esconde com a criançada do bairro, soltar pipa e trocar figurinhas repetidas. Pensou em como a violência e trânsitos intensos das cidades grandes permitem, na maioria das vezes, apenas jogos de vídeo games, tablets e computadores. As amizades também se resumem a amigos e seguidores de redes sociais.
  Um vento fresco soprou contra seu rosto e ela fechou os olhos. Que alívio sentir essa brisa depois de andar por tanto tempo no sol desde sua pousada até ali. Ainda com os olhos fechados, ouviu o canto de um pássaro que não estava muito longe de onde estava. Há quanto tempo não ouvia um pássaro cantando sem que os barulhos da cidade atrapalhassem, ou que não fossem de um que estivesse engaiolado. Sorriu de leve, sem se dar conta.
  Pra quê ter pressa em um lugar onde as conversas nos bares não têm hora para acabar, onde os vizinhos contam as novidades uns para os outros das janelas de suas casas, cada uma de um lado da rua, e onde os cachorros dormem tranquilamente em uma sombra qualquer, sem preocupação alguma?
  Foi aí que uma gratidão e satisfação enormes tomaram conta dela, tanto por poder estar naquela cidadezinha gostosa, quanto por ter se sentado em um banco simplório de uma casinha humilde, que lhe deu a possibilidade de relembrar os detalhes da vida que são engolidos pelas cidades grandes, pelas rotinas e pelas tecnologias que chegam sem pedir licença. 
  Ela, então, levantou-se, deu uma última olhada para o banco, e seguiu em frente, com a certeza de que aquele tempo fora muito bem utilizado, e que não havia dinheiro que pagasse os detalhes da vida que achamos em uma rua tranquila e colorida de uma cidade pequena de tamanho, mas enorme em detalhes.





CONVERSATION

2 comentários:

  1. Lindo texto. Me fez lembrar de minha terra e do meu tempo de criança.

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  2. Adorei.Viajei com o texto.Senti uma enorme leveza nessa cidadezinha tão charmosa e tranquila. Aguardo por mais estórias.

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