Se puder parar um pouco ao longo do dia, pare no fim da tarde. Faça a si mesmo esse favor. Não é algo científico, não é baseado em nenhum estudo, mas um fim de tarde é um presente para a alma e faz muito bem. 

  Eu aprendi a tomar essa dose diária de satisfação há muitos anos, desde menina, quando ainda não entendia quase nada. Mas já entendia o valor que um fim de tarde tem. Foi no sítio, debaixo das árvores, na rede da varanda, na paz dos piados dos pombos se despedindo do dia que eu comecei a encontrar a paz e o silêncio que um coração às vezes precisa sentir. São sensações que, quando fecho os olhos, consigo reviver onde quer que eu esteja. Um fim de tarde é silencioso, não aquele silêncio ensurdecedor, mas um silêncio sereno e cheio de paz. É quando a natureza faz sua troca de cenários, despedindo-se da agitação do dia e preparando-se para a quietude da noite. E então vem o fim de tarde fazer essa troca. Os piados dos pássaros e dos pombos já sinalizando seu recolhimento em seus ninhos, o azul do céu já não é tão intenso, o vento que sopra, já mais fresco, começa a provocar arrepios e aí, então, vem o ator principal: o sol. Ele, que nos acompanhou durante todo o dia, já desce no horizonte. Mas ele não vai embora sem antes colorir tudo de dourado. Repare na grama, nas folhas das árvores, em uma flor, em um ninho de pássaros, em um pedaço da cortina, na xícara onde você bebe seu chá, nas águas de um lago, na pele e nos cabelos de alguém. Tudo com o tom do dourado que o sol tem no fim de tarde. Parece pouco, parece comum, mas o dourado de um fim de tarde traz a sensação de paz que o desfecho de um dia pede, cobrindo de boas energias, renovando as forças que pode ser que tenham sido perdidas no decorrer das horas. É reparando nesses pequenos detalhes que, quando você nota, já não pensa em mais nada. Fez-se o silêncio, fez-se a conexão com a tranquilidade da natureza e consigo mesmo.

  E foi assim, com o passar dos anos, que faço do fim de tarde, do pôr-do-sol, o horário onde me encontro comigo mesma todos os dias. É o horário onde tudo se faz silêncio para somente os sons da natureza falarem. E quando os sons da natureza falam, ressoa dentro de mim a voz que precisa que o mundo se cale para ser ouvida. Assisti a isso tantas vezes, absorvo e vivo esse horário do dia desde menina. Adotei esse gosto e faço dele meu mantra. Começou no sítio, onde tenho contato com a natureza desde sempre, e continua cada vez que é fim de tarde e fecho meus olhos. Porque não interessa onde eu esteja, o fim de tarde tem sua cor e sons em qualquer lugar. Basta fechar os olhos e me conectar com tudo o que vive em mim e floresce com a luz dourada que nasceu um belo dia no meu peito e que brilha a cada belo fim de tarde com seu pôr-do-sol.