A caixinha de 2018



  2018 bateu à minha porta. Como todos os outros anos, ele chegou no tempo previsto, conforme o combinado, sem surpresas mas também sem pedir licença. Me despedi de 2017, observei-o indo embora com seu último pôr-do-sol, e aí pensei: o que será do futuro, do novo ano que começa amanhã? Foi aí que encontrei uma caixinha com a seguinte etiqueta: Caixinha de 2018. Sem pensar, então, abri.
  Olhando rapidamente pude ver que na Caixinha de 2018 havia algumas coisas que não incluíam bolas de cristal, cartas de tarô ou o que quer que me permitisse enxergar o que me esperaria no novo ano que começaria em breve. Suspirei contrariada. O que diabos tinha ali dentro então que poderia me ajudar? Comecei a tirar item por item. De dentro da caixa saíram um bloco de papel em branco com uma caneta, uma caixa de lápis de cor, uma agenda, um mapa, binóculo, um espelho retrovisor, uma ampulheta, uma mochila e uma lixeira. Fiquei sem entender para quê me enviariam tudo aquilo, até que, no fundo da caixinha, encontrei uma carta. Decidi me acomodar para ler e assim descobrir do que se tratava tudo aquilo. E então, como uma luz que se acende no fim do túnel, tudo começou a fazer sentido. A carta continha o seguinte texto:

  "Para você que chegou até aqui e está lendo essa carta, aqui está, nessa caixinha, tudo o que você vai precisar para 2018: um bloco de papel em branco com 365 páginas e uma caneta para você rabiscar bastante. Não tenha dó de usá-lo, não pense muito no que vá escrever ou desenhar nele, em que roupa estará vestindo quando for utilizá-lo, não faça de suas páginas apenas um monte de rascunhos. Mas também não vá deixá-lo de lado com dó de usar. Simplesmente deixe nele o que vier em sua cabeça, o que te faça sorrir, o que valha a pena para você. Desenhe planos, faça listas do que você não pode esquecer e do que é importante para você, descarregue sua raiva e frustrações para se sentir melhor, arranque suas folhas e faça um avião que alegre uma criança, escreva uma declaração de amor para alguém. Mas use-o, invente, exagere - ou não. Só não desperdice nenhuma página, não descuide do seu bloco para prestar atenção no bloco de outra pessoa, não o utilize para prejudicar ninguém. Ou você quer guardar um bloco mal cuidado ou em branco em suas memórias? 
  Na caixinha há também lápis de cor. Quer uma sugestão? Use todas as cores sem moderação. Colora bastante as páginas de seu bloquinho. Todas elas. Quanto mais cor, mais bonito ficará. Não respeite limites, não tenha preguiça. Lembre-se de que quanto mais gastos seus lápis chegarem no fim do ano, mais coloridos e felizes foram seus dias. Haverá dias em que as cores serão alegres e dias em que prevalecerão cores mais sóbrias, tristes. Não tem problema, porque todas elas existem por uma razão, fazem parte de uma caixa de lápis de cor por algum motivo. Todas elas podem ser usadas em dias tristes e felizes que compõem a vida de todos. Permita-se utilizar todas, escute sua voz interna para isso. Só não deixe mesmo seu bloquinho ficar sem cor, sem vida. Isso é muito importante.
  A agenda dispensa muitas explicações. Anote números importantes, dados que não te deixem esquecer de datas especiais, de telefones de pessoas amadas, de consultas a médicos que mantenham, te deem ou devolvam sua saúde. Não deixe os dias corridos e as redes sociais te fazerem esquecer de um aniversário de casamento ou de uma pessoa especial, ou então de um compromisso importante, ou da estreia daquele filme que você tanto quer assistir. Tempo pode parecer eterno mas é curto e vale ouro. E falando em tempo, vai junto da agenda uma ampulheta para te lembrar que ele acaba. Ele faz que passa devagar, mas quando você se dá conta, dias, meses e anos se passaram e você mal teve tempo de preencher seu bloquinho porque estava ocupado com redes sociais ou com o bloquinho da vida alheia. Vire a ampulheta e calcule bem seu tempo, 2018 pode render se você souber fazer esses cálculos. Porque segurá-lo você já aprendeu bem que não dá. Se não aprendeu vai perder mais um ano aprendendo.
  Quanto ao mapa, ao binóculo e ao espelho retrovisor, recomendo usá-los todos juntos. Não deixe de usar o mapa para orientar-se quanto à sua direção. Não se perca, saiba sempre para onde está indo. Não tem importância se você decidir mudar o destino, pegar um caminho mais longo ou um atalho, se você quer jogar o mapa pela janela e começar do zero. Pare no acostamento quantas vezes for preciso caso se sinta perdido, desça em um mirante e faça uma reflexão se é nessa estrada mesmo que você tem que estar. Nunca é tarde para mudar de mapa, de direção, de destino. Só não se permita ficar sem mapa, perder o rumo e se contentar em vagar até a gasolina e a vida acabarem. Tenha o mapa que te faça feliz e vá em frente. E para você ir em frente, conte com o binóculo para olhar, admirar, almejar e sonhar com o destino que pode estar perto, longe ou nem um nem outro. Olhe constantemente para onde está indo, deseje o destino que você vê no binóculo com toda a gana de quem não desistirá até chegar lá. Mas não se esqueça de olhar no espelho retrovisor vez ou outra. Seja para ser humilde o suficiente a ponto de não se esquecer nunca de onde veio, por mais que você tenha crescido ao longo do caminho, seja para ser grato por tudo o que você já passou no caminho que te levou até onde você está. Sim, porque não ter chegado ainda onde você quer não significa que você já não tenha chegado a algum lugar e já não seja mais aquela pessoa de antes. Todos sabemos que estradas possuem obstáculos e vistas bonitas, e que ambos contribuem para te deixar um motorista mais experiente.
  Sobre a mochila, nela cabe o que você quiser. E estamos falando aqui de experiências de vida, de bagagem emocional, de tudo o que você já viveu e que te faz ser quem você é. Nós nunca viramos um ano totalmente zerados. Podemos, sim, renovar as esperanças, a fé, tentarmos ser pessoas melhores. Mas não se esqueça de que sua essência e seus valores vão sempre com você. Coloque a pessoa que você é na mochila e siga com ela. Quer ser uma pessoa melhor? Seja. Encha sua mochila de bottons, assim como suas tatuagens contam sua história. Mas não deixe de levar a si mesmo seja onde for, seja com quem for. Não deixe ninguém mudar sua essência. Seja quem você quer ser, independente de com quem estiver dividindo o caminho. Até porque, quem está dividindo o caminho com você é porque no mínimo já gosta pelo menos um pouco de quem você é, não é mesmo?
  E por último, mas não menos importante, vem a lixeira. Tudo o que você acha que não vale a pena colocar na mochila e levar para o ano seguinte, coloque lá. Rancor, traumas, medos, sentimentos de fracasso, de vingança, dores no coração, falsas esperanças, desânimo e tudo aquilo que é muito pesado, um atraso, e que ocupe um espaço muito grande no seu coração e na sua vida, jogue na lixeira. Ou você quer ser aquela pessoa que nem consegue tirar a mochila do chão e seguir caminho de tão pesada que ela é? Alguns sentimentos são leves, como a gratidão, a bondade, a entrega, o perdão, a generosidade, a esperança, a gentileza, entre outros tantos. Esses valem a pena ser carregados. Outros não merecem ter espaço na sua mochila e na sua vida. É claro, no decorrer da vida experimentamos todos eles. Mas carregá-los, colecioná-los e fazer deles pesos na sua mochila é opção sua. A opção fica pior ainda quando você decide levar todos esses lixos emocionais de um ano para o outro. Se você decide usar certas cores de roupa na virada do ano, ajude as energias do universo a te darem o que você quer atrair se libertando dos pesos que só escurecem a alma e o coração. Do contrário, nem se vestir de arco-íris ajudará. Use a lixeira, use muito. Seja leve, seja suave, seja a melhor versão de si mesmo a cada dia.
  E então, entendeu agora porque não preciso mandar bolas de cristal na sua Caixinha? Com todos esses itens em mãos, com uma infinidade de coisas que podem acontecer ao longo de um ano, qual a graça de já saber o que te espera? Se tem uma coisa que tempera a vida, essa é a surpresa do que encontraremos na próxima esquina, na próxima curva, após a lombada, depois de escalar o morro. A vista sempre é bonita quando estamos onde temos que estar.
  Com o fim dessas explicações, só posso te dizer que te espero com muita alegria. Venha de coração aberto, porque sou suas novas oportunidades, sou sua esperança, sou sua nova chance. Com carinho, seu futuro."

  Acabei de ler a carta com lágrimas nos olhos. Passei a entender muitas coisas, mas ainda com a certeza de que ainda tenho muito o que aprender nessa vida. É para isso que temos a oportunidade de estarmos entrando em um novo ano. Para evoluirmos, para aprendermos, para sermos pessoas melhores e contribuirmos com o mundo de alguma forma. 
  O que eu vou viver nesse ano eu ainda não sei. O que eu sei mesmo é que vou usar bem meu bloquinho, meus lápis de cor e fazer dos meus dias os mais coloridos possível. Só assim terei orgulho quando for olhar pelo espelho retrovisor e fé quando for usar meu binóculo e me dar conta de que estarei mais perto do meu destino.

  Um 2018 maravilhoso para todos nós! Que Deus abençoe nossos caminhos! ✌ 💋  💝  🙏  🙌   💭 🍀  ⏳  🎉  🎁  🌟

  

CONVERSATION

1 comentários:

  1. Muito reflexivo esse texto. Ele relata coisas verdadeiras em nosso cotidiano.Adorei!

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