1º de Março. Feliz 2017!


  Quarta-feira de cinzas, dia 1º de Março de 2017. Agora sim ela vai iniciar seu novo ano. Vai guardar  no armário as fantasias que usou em todos os dias de carnaval, e vai tirar aquela lista de promessas que escreveu no dia 31 de dezembro. Mas, antes, vai só tomar aquele suco detox que promete aliviar os exageros do Carnaval e vai tentar, mais uma vez, remover dos olhos aquele delineador à prova d´água que insiste em não sair nunca. 
  Se bem que dá dó de terminar de tirar o delineador. Ele, que foi passado com tanto cuidado e que deu aquele acabamento perfeito à maquiagem de coelhinha que usou nos bloquinhos de terça-feira de Carnaval. Parada em frente ao espelho, ela se recorda de como sua fantasia fez sucesso, de como dançou, pulou, cantou, bebeu e quase beijou um turista que tanto a encarava mas que depois sumiu na multidão. Uma pena. Os outros dias todos também foram sensacionais. Era difícil escolher qual bloquinho seguir e mais difícil ainda era largar os amigos e voltar pra casa, mesmo com chuva, mesmo com as pernas doendo. Mas difícil mesmo será retornar à rotina, voltar às aulas da faculdade, e voltar a caber dentro de rótulos impostos pela sociedade.
  Como diz uma certa música, ela queria mesmo que essa fantasia do carnaval fosse eterna, quando homem se veste de mulher, mulher se veste de homem, crianças se vestem de seus super-heróis favoritos, e aquela roupa brega que vive escondida no fundo da gaveta se torna perfeita para ganhar as ruas. É quando todos podem ser o que quiserem. São dias em que cantar errado é permitido, jogar serpentinas e confetes em desconhecidos é engraçado, e colar adesivos no rosto fica charmoso.  Mas foi bom enquanto durou, valeu o extravaso, valeu sair de casa sem ter hora para voltar, valeu tomar Catuaba e ter aquele porre que se cura ao som do próximo bloquinho de rua. Valeu ficar longe das salas de aula, nem que seja por poucos dias, e valeu mais ainda ser livre. E o melhor: ano que vem tem mais, que sorte!
  Percebendo que as lembranças do carnaval não estavam no delineador borrado nos olhos, mas sim no seu coração, terminou de passar o demaquilante, pegou a lista de promessas do Réveillon e tratou de ver por onde iria começar a colocá-la em prática. Afinal, brasileiro que é brasileiro começa a realidade nua e crua após retirar as fantasias de um doce carnaval.

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