Você não sabe de nada
Você não sabe de nada. Isso não é uma frase para ofender, agredir ou muito menos aquele tipo de palavras que saem em direção ao outro como um dedo em riste. Essa frase "Você não sabe de nada" com sujeito, verbo e complemento, além de frase, é também um fato. E o sujeito em questão realmente não sabe de nada, seja ele eu, você, nós ou eles. Nem sabemos, mas estamos às cegas quando o assunto é aquela pessoa que você ama, a que você não ama tanto assim, aquele vizinho emburrado, o que está na sua frente na fila do supermercado ou aquele que está do seu lado em um metrô cheio e que você nunca havia visto antes na vida. E nem verá mais. Mas quantas vezes, quando não há nada mais para se fazer no momento, você decide reparar e julgar alguém pela sua expressão facial? Ou pelo seu cabelo? Ou pelas roupas que veste? E aí, junto com o julgamento que surgiu como um passatempo, nasce também uma verdade. E é exatamente onde está o problema. Trata-se de uma verdade que só existe no mundo daquele que resolveu julgar alguém por causa de um breve momento, por puro prazer ou pela falta do que fazer. Mas pare para pensar: o que você sabe sobre aquela pessoa? Você faz alguma ideia do porquê de ela estar com aquela cara azeda, do porquê de ela ter dito aquelas palavras em um dado momento ou o motivo de estar usando aquelas roupas amassadas, fora de moda ou do avesso? Passaria pela sua cabeça porque aquele jovem come sem parar, porque aquele senhor está distraído, porque o motorista do carro à frente deu uma guinada no volante ou porque aquela moça passou correndo na sua frente e nem te pediu licença? Não sabe. Porque realmente nunca sabemos de nada, seja sobre a vida, com a qual estamos realmente sempre aprendendo desde que nascemos até quando partirmos, mas principalmente nunca sabemos de nada quando o assunto é o outro. Aquele outro que partilha o mesmo mundo que você, que também tem problemas, medos, inseguranças, mau humor, outras ideias, outras culturas, outras visões, outros gostos e milhões de motivos para estar ali, naquele momento, pensando em alguma coisa e sentindo algo que você nunca saberá. E sabe, esse outro não necessariamente precisa ser essas pessoas que, aos nossos olhos, são aleatórias em nossas vidas e nos nossos dia-a-dia. Somos leigos muitas vezes também com pessoas que estão próximas a nós. Nem todo sentimento, fatos do passado, sonhos, expectativas, agonias, ansiedades, alegrias e prazeres são compartilhados. Imagino que cada um tenha seu oceano individual e interior. Nele nadam fatos, acontecimentos e sentimentos que pertencem somente a nós mesmos, e ainda que tentamos expô-los, só nós sabemos onde nos espetam, onde nos doem, onde nos apertam, onde nos tocam, onde nos transbordam. E isso, ninguém nunca vai entender, ou saber. É compreensível, é saudável, é inerente a cada um e é o que faz nossa identidade própria.
Então voltamos à frase que não é um dedo em riste, mas sim um conselho, uma advertência, e que deveria vir na cartilha de boa convivência para uma compreensão mais justa e empática com qualquer ser humano que cruze nossos caminhos: você não sabe de nada. E nem vai saber. E é por isso que é melhor não julgar, acusar, etiquetar, maltratar. O verbo é respeitar. E ele vai na mesma frase do sujeito "Você". O você que pode ser eu, você aí mesmo, nós todos, eles e todos aqueles que vieram nesse mundo tão complexo para aprender, já que realmente não sabemos de nada. Mas bem que podemos tentar.
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