No banco do carona
Acaba de chegar ao fim uma viagem incrível da qual fui de carona. Foi daquelas viagens que fazemos do nada, sem esperar, sem pré-organização, sem check-list de itens a se levar.
Então como se deu essa viagem? Foi como se estivesse no banco do passageiro de uma pessoa incrível que resolveu sentar no volante e dirigir em direção aos próprios sonhos. O meu tíquete para embarcar foi o texto que ela fez no Instagram quando chegou lá, na África. Eu nem sabia, mas esse sonho dela era um desejo bem escondido no fundo do meu coração também. Quando li o texto, pensei: taí, quero embarcar, quero ver o lado de um continente que eu nunca veria se não fosse nessa chance, nessa viagem que ela sonhou e que colocou tanta gente no banco do carona. Eu fui uma delas.
Gentilmente, como me lembro que sempre foram as atitudes dela, seguiu mostrando cada cantinho que pisava, cada experiência que vivia e foi nos apresentando o lado africano que fica bem fora dos roteiros turísticos que as pessoas buscam quando pensam em África. Ela fez diferente. Foi de peito aberto, sem medo e sem falar o idioma, dando a cara à tapa para estender a mão a quem vive no ponto cego da humanidade, tentando levar um pouco do carinho que muitos ali nem sabiam que existia. Levou muitos abraços, levou sua alegria, um pouco da comida mineira e até seu próprio cabelo que raspou para dar forças a uma jovem que não tinha nada, inclusive essa força e esse cabelo que acabou recebendo. Quanto à cara à tapa, foi exatamente o que ela recebeu em muitos momentos durante a viagem e que todos nós, caronas, recebemos também. Um tapa na cara dado pela vida, uma demonstração do que ela sabia que encontraria, mas que, de longe, nem parecia tão cruel. Mas era. É aquilo que diz o famoso ditado "o que os olhos não vêem o coração não sente". Ela viu de perto, o coração dela sentiu e nós todos, no banco do carona, pudemos sentir também. Vimos muitas lágrimas rolarem. Choramos junto, nos emocionamos junto, entendemos mais um pouco de como é importante não desperdiçar comida, de como é bom ter um corpo saudável, uma mente aberta, inúmeras possibilidades e um coração generoso.
Coração generoso. Taí uma das maiores riquezas que um ser humano pode ter. E essa pessoa incrível tem de sobra. Ela fez com que uma viagem que ela realizou sozinha fosse uma experiência grandiosa para todos que usavam a tela do celular para acompanhá-la. Nós conhecemos safáris, danças locais, paisagens lindíssimas, pores do sol de tirar o fôlego, passamos por ruas que nos fizeram dar valor às ruas por onde hoje passamos e das quais muitas vezes reclamamos. Vimos crianças que não têm nada além de um lindo sorriso no rosto e muita fé no coração e vimos que o mundo seria melhor se carregássemos esse mesmo sorriso e essa mesma fé todos os dias, mostrando um pouquinho mais de compaixão por quem precisa exatamente disso para ter o próprio dia um pouco melhor. Vimos a moça que precisa de um tratamento para viver e que, mesmo assim, carregava uma paz imensa nos olhos. Essas foram algumas das coisas que vi do banco do carona e que, com certeza, me fizeram pensar no mundo de uma forma diferente.
O avião da Fran já deve estar pousando no Brasil. Vou sentir falta de suas fotos e das suas histórias contadas via Instagram e Facebook. Histórias que fizeram a tela fria do celular virar um portal que nos nos permitiu entrar em contato com outro mundo. A tela fria que fez uma única e especial pessoa ajudar tanta gente a se tratar. E quando falo de tratamento, me refiro ao mesmo tratamento que ela tanto enfatizou: o tratamento da alma. Aquele remédio amargo chamado choque de realidade que faz a gente acordar e ver que o mundo não precisa mais de egoísmo, de falta de compaixão, de ódio, de competições sem sentido. Quem sabe, quando entendermos realmente tudo isso de uma forma profunda e verdadeira, estaremos curados?
Não sei se um dia verei tudo isso de perto, mas vou seguindo assim, fazendo minha parte, seja me deixando tocar, me fazendo sentir, me permitindo entender que o mundo está aí com muita coisa para nos ensinar. E enquanto isso a gente segue pela estrada assim, em constante tratamento.
Texto inspirado e feito em sua homenagem, Francielli Rosa. Grata por ter me levado em sua agradável e enriquecedora carona!
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